Por André Chede - Toro News
Quem
não conhece a célebre expressão “E agora, José”? Pois saiba que ela é o
verso que se repete insistentemente no famoso poema “José”, de Carlos
Drummond de Andrade, publicado em 1942. Caiu em domínio público e passou
a ser usada sempre que alguém está diante de dificuldades, em um beco
sem saída, em busca de uma solução.
É
exatamente isso que se pergunta o investidor brasileiro, depois de um
desanimador primeiro semestre de 2013. Muito embora o orgulho nacional
tenha renascido, entre os protestos por um país melhor e a alegria de
uma nova seleção de futebol, a verdade é que neste momento a nossa
economia é cambaleante e deficitária, e o investidor está sentindo isso
no bolso.
A
Bolsa brasileira é disparada com o pior desempenho este ano, dentre as
que têm alguma relevância mundial, com o Ibovespa aos 47 mil pontos
caindo 22% nos primeiros 6 meses do ano. Esse é pior desempenho
semestral, desde a crise em 2008, o que faz com que a nossa bolsa atinja
o pior patamar dos últimos 4 anos.
Por
incompetência da própria BM&FBovespa, e as dificuldades impostas
pelas órgãos reguladores como a CVM, o número de investidores Pessoa
Física que aplicam diretamente em ações, em pleno século XXI, ainda é
irrelevante, com apenas o equivalente a 0,3% da população do país. Em
países desenvolvidos esse índice passa de 50%, e em países emergentes
como México, Rússia e China, esse número é ao menos 20 vezes maior,
chegando à casa dos 7%.
Por
conta disso, nosso mercado é extremamente dependente do investidor
estrangeiro, sendo que estes representam atualmente mais 40% do volume
negociado na nossa Bolsa. E como os “gringos” não têm gostado muito do
que tem visto por aqui, nosso mercado sofre, e muito.
Saiba quais os fatores que têm prejudicado a nossa imagem internacionalmente.
BRASIL
O
governo Dilma parece não ter aprendido com os erros dos últimos anos e
insiste no modelo de crescimento, via consumo, que não é mais viável no
Brasil. A economia, que cresceu ínfimos 0,9% em 2012, apesar de todo
esforço feito mostra número fracos novamente, com um PIB
(Produto Interno Bruto) registrando alta de 0,6% no primeiro trimestre
de 2013, na comparação com o quarto trimestre do ano anterior, com uma
indústria novamente decepcionante.
Por outro lado, a inflação
continuou mostrando resiliência, o que fez o Copom (Comitê de Política
Monetária) elevar a Selic em 0,5% na última reunião em 29 de maio. Com
isso, a Selic passou para 8% ao ano, sendo que o relatório Focus projeta
uma alta na taxa básica de juros para 9% até o final do ano.
A
integridade do setor privado vem sendo constantemente ameaçada através
de intervenções governamentais; como a MP 579 que alterou drasticamente
as concessões no Setor Elétrico; as pressões dos bancos estatais pela
diminuição do spread bancário; ou o congelamento dos preços do
combustível que fazem com que a Petrobras tenha prejuízo vendendo
gasolina. Tais atitudes, entre outras, fizeram com que agência
internacional de risco, Standard & Poors, comunicasse que poderia
tirar o Grau de Investimento detido pelo país desde 2008.
Outro
fator que tem contribuído para o descrédito na economia e nas empresas
brasileiras tem a ver com aquele que já foi considerado o homem mais
rico do país. Eike Batista é o símbolo do Brasil que
não deu certo, com problemas de gestão e financeiros em todas as
empresas, o valor de mercado das empresas “X” já cai 92% desde sua
máxima histórica, e especula-se que esteja pedindo ajuda ao governo para
não quebrar.
CHINA
O
cenário interno, já não muito promissor, foi bastante afetado pela
China, que apresenta desaceleração no seu crescimento. Os dados
econômicos chineses, que vêm se apresentando mais fracos no primeiro
semestre deste ano, afetam de forma direta o Brasil, uma vez que o país é
um grande exportador de commodities para o gigante asiático e se
beneficiou com a forte demanda por produtos nacionais nos últimos anos.
Após crescer cerca de dois dígitos durante anos, as expectativas mais
otimistas apontam para alta de cerca de 7,5% do PIB para o gigante.
EUA
As
notícias que mais impactaram os mercados em junho vieram da economia
norte-americana, que mostrou sinais de atividade maior que o esperado.
Por conta disso, existe a expectativa que o Federal Reserve (Banco
Central Americano) antecipe a redução dos estímulos feitos ao longo dos
últimos anos, e inicie um ciclo de alta dos juros básicos do país em
futuro próximo.
A
informação é positiva e trará novas perspectivas de crescimento para
todos os países, porém, no curto prazo gera um ajuste grande nos
mercados de capitais. Segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista
da Quest, “Na rudimentar opinião dos mercados, uma normalização dos
juros nos EUA vai fazer com que a maior parte do dinheiro que circula
hoje em países como o Brasil volte correndo para Wall Street, deixando à
míngua essas economias”.
Como
o título público americano, que é considerado o mais seguro do mundo,
irá começar a remunerar melhor, os investidores cobram um prêmio maior
para investir em ativos de maior risco. Desta forma, as aplicações em
ações, fundos imobiliários e títulos públicos brasileiros, sofreram
muito. Por conta disso, os títulos públicos domésticos, indexados a
inflação, com vencimento maior que 5 anos, estão com uma desvalorização
de 11,7% em 2013.
O
Banco Central bem que tentou segurar a alta do dólar, mas no acumulado
do primeiro semestre, a divisa dos Estados Unidos subiu 9,1%, a maior
arrancada para o período desde 2002, quando houve uma fuga maciça de
recursos do país, diante da desconfiança do que seria um governo
comandado pelo PT.
Mas,
de acordo com Mendonça de Barros, a melhora dos EUA e o consequente
movimento de alta nos juros ficará para o ano que vem, sendo esse
movimento de correção exagerado: “Minha expectativa é que nas próximas
semanas essa percepção de que o dia do ajuste final só ocorrerá em 2014
consolide esse movimento de recuperação dos mercados emergentes”.
Na
conjuntura atual, os protestos que invadem as ruas de norte a sul, são
muito bem-vindos, pois cobram uma mudança necessária no cenário político
e abrem uma perspectiva de um desenvolvimento econômico mais promissor.
Espera-se que o estigma de País do futuro, um dia vira coisa do
passado, mas enquanto isso todos os “Josés”, que de acordo com Drummond
aqui habitam, se perguntam: “E agora, Brasil?”.