Já não deve ser surpresa para
ninguém que o crescimento da economia brasileira neste ano será
medíocre. Com juros e desemprego em alta, inflação corroendo salários e
investimentos minguando devido a incertezas econômicas e políticas,
mesmo as atuais previsões de crescimento de 2% a 3% me parecem
exageradas. Um crescimento mais próximo do pífio 0,9% registrado no ano
passado é mais provável.
Em um ambiente econômico tão
desfavorável, o que empresas e profissionais brasileiros podem fazer
para se diferenciar e alcançar um desempenho melhor do que o da economia
como um todo? Não sou particularmente religioso, mas a resposta veio do
Papa Francisco.
Brasileiro nenhum gosta de receber lições de um
argentino, mas o momento é de humildade. Esta foi exatamente a primeira
lição de Francisco, a necessidade de humildade para reconhecer a
situação com que vamos lidar e o que podemos mudar nela.
Com baixo
crescimento, será fácil e justo culpar o governo por sua incapacidade
de tomar medidas para reverter a situação, mas isto não garantirá o
emprego de ninguém no final do mês. Façamos como Francisco. Desconfio
que ele preferisse herdar uma Igreja que não estivesse envolvida em
corrupção e acobertamento de casos de pedofilia, nem perdendo fieis na
América Latina para os evangélicos, mas ele não pôde escolher. O que ele
pôde e escolheu foi reconhecer publicamente os problemas na Cúria e
fazer uma longa e revigorante visita ao maior país católico do mundo.
Ainda é muito cedo para dizer se a estratégia vai funcionar, mas não é
cedo para saber que se nada fosse feito, as dificuldades da Igreja só se
agravariam.
Com impostos demais, mão de obra cara e mal
preparada, sobra de burocracia e falta de infraestrutura, desculpas para
justificar eventuais mal resultados, nossas empresas tem de sobra.
Acontece que justificativas não mudam a situação. O que mudaria?
Francisco
enfatizou, e demonstrou na prática, que é preciso aproximar a Igreja
dos fiéis. Servir bem para servir sempre. Duas dificuldades vividas por
empresas dos mais diversos setores da economia brasileira nos últimos
anos foram o aumento da concorrência e a commoditização dos serviços e
produtos. A competição ficou mais feroz e, com a disseminação e queda de
custo de tecnologias antes acessíveis apenas aos líderes em seus
setores, os diferenciais encolheram.
Para mudar esta realidade,
precisamos oferecer serviços cada vez melhores, ainda que vendamos
produtos. Isto mesmo. Cada vez mais, na decisão de compra de produtos
pesam os serviços ligados a eles. Quer um exemplo? Os telefones
celulares que uso são inferiores a outros disponíveis, mas o atendimento
que recebo é tão superior que não mudo.
Outro exemplo? A uma
quadra de onde moro, há uma padaria ampla e bem suprida, mas prefiro
outra, a umas 30 quadras, pequena e apertada, mas onde o pão é bem mais
gostoso.
Nos dois exemplos, os serviços de um único profissional –
um profissional de atendimento e um padeiro – definem o que compro,
impactando positivamente o resultado de suas empresas.
Humildade e melhores serviços, duas lições de Francisco para cada um de nós, as empresas e os governantes.
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