sábado, 22 de fevereiro de 2014

O sucesso é relativo, diz professor de Wharton

Até os 37 anos, Richard Shell, professor de direito e negociação de Wharton, a escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, não tinha uma carreira definida nem sabia que caminho seguir.
Já tinha se formado em língua inglesa e estava voltando de um sabático em que percorreu Grécia, Turquia, Irã e Afeganistão. Entrou na faculdade de direito, formou-se e começou a lecionar em Wharton. Na escola americana, tornou-se referência mundial em negociação.
Em 2005, passou a ministrar um curso no MBA da escola intitulado Literatura do Sucesso. Com base em filosofia, história e literatura, Shell leva os alunos a mergulhar numa jornada de conhecimento pessoal. "Instigo os alunos a descobrir a definição de sucesso para eles", afirma Shell.
Em agosto, ele lançou Springboard: Launching Your Personal Search for Success (em português, "Trampolim: lance sua busca pessoal para o sucesso"), seu quarto livro, ainda inédito no Brasil, sobre o qual ele concedeu a entrevista a seguir.
VOCÊ S/A - O que é sucesso para o senhor?
Richard Shell - As pessoas acreditam que é quando somos melhores do que os outros, ganhamos mais ou temos um cargo mais alto. Não é isso. Sucesso é quando você se sente bem consigo mesmo, com suas decisões.
VOCÊ S/A - Qual a melhor forma de redefinir o sucesso pessoal?
Richard Shell, professor da Escola de Negócios WhartonRichard Shell - Todo mundo tem a chance de definir o que é o próprio sucesso. Uma ótima forma é ficar atento na próxima vez que conversar com pessoas que não o conhecem muito bem. Sabe quando conhece alguém durante uma viagem e precisa contar a essa pessoa o que faz? Essa resposta, que resumirá quem você é, ajuda a revelar o que você estabelece como realização.
Faça perguntas como: "O que estou fazendo aqui?", "Como meus pais contribuíram para minha história?”, "Com que eu sonho?" Questões como essas o ajudam a relembrar sua história.
VOCÊ S/A - As pessoas frequentemente buscam ideais de sucesso que não são próprios, mas de pais ou amigos. Por que isso não funciona?

Richard Shell - Você se sente realizado ao fazer o que gosta. Quando conta isso para as pessoas, não tem problema nem precisa fazer esforço. Se você é engenheiro, por exemplo, porque seu pai desejava, toda vez que tiver de contar para alguém o que faz, vai ter de fazer um grande esforço.
Isso custa muito caro e traz muita insatisfação. O melhor mesmo é sair do armário e parar de fngir. Ter sucesso não significa apenas alcançar metas, mas sentir prazer nisso.
VOCÊ S/A - Para alcançar o sucesso é preciso ter um propósito? 
Richard Shell - Em um trabalho com significado você usa seus talentos, é recompensado por isso e as pessoas respeitam o que você faz, algo que geralmente acontece porque cumpriu bem a tarefa. Agora, quando você ganha para colocar em prática seus talentos e sua competência, você fica contente, aprende e se sente bem em relação a isso.
Ou seja, as chances de sentir prazer no que faz aumentam. E, quando você sente prazer, isso traz satisfação e você sente que tem um propósito. Isso é ter sucesso. Mas a gente raramente atenta para isso.
VOCÊ S/A - O senhor afirma que a incerteza é ótima. Mas sempre escutamos que, para ter sucesso, é preciso planejar a carreira ao máximo. Afinal, o que devemos fazer?
Richard Shell - As duas coisas devem andar juntas. A vida é como uma viagem, por isso faz sentido ter um plano. Mas há situações em que você não sabe o que virá depois. Algumas pessoas planejam tanto que não conseguem nem se lembrar da própria história. Porque, na verdade, nada aconteceu.
Sem contar que, se você tem um plano muito detalhado e algo dá errado, se sente totalmente frustrado. O oposto também é real. Se você não tem nenhum plano, não tem senso do que deve fazer e fica angustiado o tempo todo. E, nesse caso, a mente trava.
O melhor é ter um plano que lhe permita improvisar. Quando você não está totalmente certo, novas ideias surgem espontaneamente.  É disso que você se lembra na vida.
VOCÊ S/A - Como escolher um caminho? 
Richard Shell - A maioria acredita que devemos escolher apenas uma carreira. Mas grande parte das pessoas bem-sucedidas que conheço tem duas ou três carreiras. Elas aprendem e mudam as habilidades. As pessoas de sucesso veem isso como um experimento. É a chance de testar as reações, de ver se você gosta ou não daquilo. E, se você gosta, apenas admite e começa de novo.
VOCÊ S/A - Mas as pessoas têm medo de mudar.  Como devemos lidar com isso?
Richard Shell - Primeiro certifique-se de que você não está correndo de alguma situação, mas correndo em direção a uma. as pessoas, geralmente, estão fugindo. Elas precisam parar. Todo mundo tem indecisões e dúvidas. a vida fica mais interessante quando você não tenta se proteger do fracasso.
Nos momentos de dúvida, em vez de pensar que você não sabe o que fazer, é preciso buscar confiança. As pessoas que conheço que se sentem bem-sucedidas aprendem como falhar. É uma fonte de aprendizado.
VOCÊ S/A - Uma vez que se trabalhe em algo prazeroso, existe uma forma de ser mais produtivo?
Richard Shell - Sim. Trabalhar com pessoas parecidas com você. Deveríamos sempre trabalhar com pessoas que têm conhecimento, temperamento, crenças, experiência e interesses parecidos. Nas empresas, normalmente as equipes são formadas por profissionais que estão disponíveis. Isso resulta em equipes ruins.
E, mesmo que você trabalhe muito bem e dê o seu melhor, não chegará ao melhor resultado, porque você não se sente bem. As pessoas deveriam ter mais iniciativa e ser mais insatisfeitas com as escolhas que fazem por elas. Não têm coragem de dizer ao chefe que não trabalham bem com determinado colega.
O resultado de nosso trabalho é como uma planta. Se você plantar a mesma semente em diferentes terrenos, elas vão crescer de maneiras diferentes. o mesmo acontece conosco. Precisamos ter os melhores terrenos para ter os melhores resultados.

Você S/A

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