quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Índice Big Mac ajuda a explicar preço do carro brasileiro

19/01/2012 10:45  - Fotos: Divulgação, Luiz Humberto Monteiro Pereira e Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias. Ilustração: Afonso Carlos/CZN

Descompasso cambial, carga tributária excessiva, margens de lucro mirabolantes: quem paga a conta é o consumidor
por Túlio Moreira
MotorDream

O Índice Big Mac é um demonstrativo criado em 1986 que utiliza o famoso sanduíche da rede de fast food McDonald’s para comparar o custo de vida entre diversos países. O levantamento mais recente, divulgado este mês pela revista inglesa The Economist, pesquisou o preço do produto em 44 países e constatou que o Big Mac brasileiro é o quarto mais caro do planeta, superado apenas pelo sanduíche vendido na Suíça, na Noruega e na Suécia. O estudo leva em conta a paridade no poder de compra de diferentes moedas, por meio da comparação entre taxas de câmbio. No Brasil, o Big Mac custa o equivalente a US$ 5,68. O mesmo sanduíche sai por US$ 6,81 na Suíça e US$ 4,20 nos EUA.

A curiosa pesquisa ajuda a elucidar uma das principais questões que pairam sobre a indústria automobilística nacional: por que os carros são tão caros no Brasil? O Volkswagen Gol básico com motor 1.6 litro é vendido no México pelo equivalente a R$ 17 mil, enquanto o compacto com a mesma configuração não sai por menos de R$ 30 mil por aqui. Detalhe: o modelo é fabricado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, de onde é enviado para o mercado mexicano. O preço de um Big Mac no México? O equivalente a US$ 2,70.


Toyota Corolla: R$ 30 mil nos Estados Unidos e R$ 63 mil aqui
De acordo com a lógica utilizada pela The Economist, o ideal é que o Big Mac custe o mesmo que nos Estados Unidos, já que o sanduíche utiliza os mesmos itens e requer mão-de-obra semelhante em todos os lugares em que é produzido e vendido. De acordo com a análise do economista Fernando Arbache, o levantamento indica que o real está sobrevalorizado em 32% na comparação com o dólar. Ou seja, a moeda norte-americana deveria estar cotada atualmente em R$ 2,44. A cotação desta quinta-feira (19) indica o valor de R$ 1,76. O problema é que esse descompasso no câmbio influencia o preço de mais de 30% dos produtos considerados para o cálculo da inflação, e o custo de vida no Brasil se torna mais caro.

Além disso, há o problema da carga tributária para a indústria automobilística. Os veículos produzidos no Brasil têm 41,12% de seu preço final correspondentes a impostos e taxas. E o custo para se manter um veículo também é extremamente alto. Em 2011, a arrecadação com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), licenciamento de veículos, abastecimento de combustível, impostos gerados com gastos com reparo e manutenção de veículos e multas reverteram nada menos que R$ 90 bilhões para o governo.

Carros com apelo aventureiro revertem grandes margens de lucro para as fabricantes

O Brasil aparece no topo do ranking mundial de participação dos tributos sobre automóveis no preço repassado ao consumidor, com média de 30,4%. Em seguida aparecem Itália e Reino Unido, com 16,7%, França com 16,4% e Alemanha com 16%. Isso também ajuda a explicar o abismo entre os preços cobrados por um mesmo produto no mercado nacional e em outros países. Um sedã médio como o Toyota Corolla, por exemplo, recolhe 31% em impostos. O mesmo modelo paga apenas 6% nos Estados Unidos. Moral da história: o sedã japonês parte de R$ 30 mil no mercado norte-americano, e começa em R$ 63.570 por aqui.
Mas há ainda outro fator determinante para fazer do carro brasileiro um dos mais caros do mundo. As montadoras instaladas no país praticam altas margens de lucro, como apontou reportagem publicada pelo portal UOL Carros em junho.

Os jornalistas Joel Leite, Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli apuraram que fábricas instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial que é revertido para suas matrizes internacionais. De acordo com uma pesquisa feita pelo banco de investimento inglês Morgan Stanley, grande parte desse lucro é oriundo da venda de carros com aparência fora-de-estrada, bastante procurados por aqui. Com acessórios como estepe pendurado na tampa do porta-malas e quebra-mato, esses veículos custam significantemente mais que suas versões “convencionais”. O CrossFox sai por R$ 50.030, enquanto o Fox é vendido por R$ 37.040. Na Argentina, o compacto da Volkswagen com apelo off-road sai por apenas R$ 27.500.

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