Descompasso cambial, carga tributária excessiva, margens de lucro mirabolantes: quem paga a conta é o consumidor
por Túlio Moreira
MotorDream
O Índice Big Mac é um demonstrativo criado em 1986 que utiliza o famoso sanduíche da rede de fast food McDonald’s para comparar o custo de vida entre diversos países. O levantamento mais recente, divulgado este mês pela revista inglesa The Economist, pesquisou o preço do produto em 44 países e constatou que o Big Mac brasileiro é o quarto mais caro do planeta, superado apenas pelo sanduíche vendido na Suíça, na Noruega e na Suécia. O estudo leva em conta a paridade no poder de compra de diferentes moedas, por meio da comparação entre taxas de câmbio. No Brasil, o Big Mac custa o equivalente a US$ 5,68. O mesmo sanduíche sai por US$ 6,81 na Suíça e US$ 4,20 nos EUA.
A curiosa pesquisa ajuda a elucidar uma das principais questões que pairam sobre a indústria automobilística nacional: por que os carros são tão caros no Brasil? O Volkswagen Gol básico com motor 1.6 litro é vendido no México pelo equivalente a R$ 17 mil, enquanto o compacto com a mesma configuração não sai por menos de R$ 30 mil por aqui. Detalhe: o modelo é fabricado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, de onde é enviado para o mercado mexicano. O preço de um Big Mac no México? O equivalente a US$ 2,70.

De acordo com a lógica utilizada pela The Economist, o ideal é que o Big Mac custe o mesmo que nos Estados Unidos, já que o sanduíche utiliza os mesmos itens e requer mão-de-obra semelhante em todos os lugares em que é produzido e vendido. De acordo com a análise do economista Fernando Arbache, o levantamento indica que o real está sobrevalorizado em 32% na comparação com o dólar. Ou seja, a moeda norte-americana deveria estar cotada atualmente em R$ 2,44. A cotação desta quinta-feira (19) indica o valor de R$ 1,76. O problema é que esse descompasso no câmbio influencia o preço de mais de 30% dos produtos considerados para o cálculo da inflação, e o custo de vida no Brasil se torna mais caro.
Além disso, há o problema da carga tributária para a indústria automobilística. Os veículos produzidos no Brasil têm 41,12% de seu preço final correspondentes a impostos e taxas. E o custo para se manter um veículo também é extremamente alto. Em 2011, a arrecadação com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), licenciamento de veículos, abastecimento de combustível, impostos gerados com gastos com reparo e manutenção de veículos e multas reverteram nada menos que R$ 90 bilhões para o governo.
Carros com apelo aventureiro revertem grandes margens de lucro para as fabricantes
O Brasil aparece no topo do ranking mundial de participação dos tributos sobre automóveis no preço repassado ao consumidor, com média de 30,4%. Em seguida aparecem Itália e Reino Unido, com 16,7%, França com 16,4% e Alemanha com 16%. Isso também ajuda a explicar o abismo entre os preços cobrados por um mesmo produto no mercado nacional e em outros países. Um sedã médio como o Toyota Corolla, por exemplo, recolhe 31% em impostos. O mesmo modelo paga apenas 6% nos Estados Unidos. Moral da história: o sedã japonês parte de R$ 30 mil no mercado norte-americano, e começa em R$ 63.570 por aqui.

Os jornalistas Joel Leite, Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli apuraram que fábricas instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial que é revertido para suas matrizes internacionais. De acordo com uma pesquisa feita pelo banco de investimento inglês Morgan Stanley, grande parte desse lucro é oriundo da venda de carros com aparência fora-de-estrada, bastante procurados por aqui. Com acessórios como estepe pendurado na tampa do porta-malas e quebra-mato, esses veículos custam significantemente mais que suas versões “convencionais”. O CrossFox sai por R$ 50.030, enquanto o Fox é vendido por R$ 37.040. Na Argentina, o compacto da Volkswagen com apelo off-road sai por apenas R$ 27.500.
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