quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Europa: existe luz no fim do túnel?

Nos próximos dias 1, 2 e 3 de novembro, São Paulo receberá pela primeira vez o evento Global Business Summit, promovido pela tradicional escola de negócios espanhola Iese. Com o tema "Traçando caminhos em um mundo mais amplo", a conferência tem como objetivo discutir o futuro da economia mundial.

Em entrevista ao Administradores.com, o professor de Finanças, Economia e Administração do Iese Eduardo Martínez Abascal fala sobre a atual conjuntura econômica mundial, a crise que preocupa os europeus e aponta perspectivas para o Brasil.

A Europa enfrenta um momento de grande dificuldade econômica. Existe luz no fim do túnel? Qual a saída para essa crise?

O primeiro passo é entender que as economias europeias são extremamente interligadas. A União Europeia forma um mercado comum, o que significa que quando um dos países membros enfrenta algum problema, os outros sentem as consequências. Por exemplo, há alguns anos, os problemas que se iniciaram na Irlanda, Grécia e Portugal, pouco a pouco, começaram a ser sentidos na Espanha e Itália. Em seguida, a crise já havia se espalhado por todo continente, com exceção da Alemanha. Todos os países da União Europeia estão com a taxa de crescimento negativa. E em relação à Alemanha é uma questão de tempo para que ela também entre em crise, por que o crescimento do país é proveniente das exportações, a demanda doméstica é muito fraca. A Alemanha é um país muito rico e você não venderá um carro em um lugar onde todos já têm um.
Grande parte das vendas alemãs são dentro da União Europeia e se os países-membros estão quebrados não poderão comprar tanto. O resultado é a queda da economia germânica. Um dos principais compradores da Alemanha era a Espanha. Se você der uma volta por Madri ou Barcelona, verá diversos modelos de BMW ou Mercedes-Benz. Ninguém comprará mais um produto que já tem. Minha conclusão, para dinamizar a economia, é pensar a Europa como um só país, com interesses comuns. O problema é que até agora nós não tivemos nenhuma ação política em conjunto contra a crise. Os países, partidos e indivíduos estão lutando pelos próprios interesses em vez de lutar a favor dos interesses coletivos.

Na Espanha, por exemplo, os jovens estão precisando lidar com uma taxa de desemprego muito alta. Qual é o futuro do recém-formado no país?

O futuro é obscuro. As chances de se conseguir um trabalho na Espanha são escassas. Para existirem empregos, é necessário que exista um crescimento econômico estável e não é essa a situação do país. Só existem duas alternativas para os jovens espanhóis: ou eles aceitam empregos que não são compatíveis com a sua formação acadêmica ou vão procurar emprego em outro país. Na Alemanha ou Áustria, existem milhares de empregos, mas muitos recém-formados hesitam em se mudar por que saindo do país de origem estão deixando, também, sua zona de conforto e a qualidade vida. É como deixar o Rio de Janeiro para trabalhar em São Paulo, Na cidade praiana as pessoas pensam: "estou vivendo no paraíso". Mas o paraíso não é nada se você não tiver dinheiro.

O país está em crise e todas as pessoas qualificadas vão embora. Assim a economia não vai se recuperar...

Não, por que essa situação não é permanente. As pessoas passarão alguns anos fora e voltarão depois para o país de origem. Inclusive, eles assimilarão as lições dos países para onde vão, geralmente compostos por pessoas inteligentes e trabalhadoras que passaram anos no exterior se aprimorando, já que a sua cidade não oferecia tantos recursos. Elas falam outras línguas, são capazes de vender seus produtos em qualquer lugar do mundo e possuem habilidades para negócios, já que sabem lidar com pessoas de culturas diferentes. O problema dos latinos - espanhois, franceses, italianos, brasileiros e outros - é que nós vivemos muito bem, achamos que nosso país é o melhor em qualidade de vida. Então, nós raramente buscamos experiências no exterior.

O economista-chefe do FMI, Oliver Blanchard, deu uma declaração nesse mês de outubro dizendo que o período de recuperação da economia mundial após a crise financeira, originada em 2008, pode durar ao menos uma década. Você acredita também nessa estimativa?

Ainda bem que você usou a palavra "acreditar", por que isso é apenas mais uma crença. Ninguém sabe quando a crise chegará ao fim, por que isso depende de muitos fatores como a ação dos políticos, dos bancos e da confiança da população. Essa confiança a que me refiro é aquela que trará o consumidor de volta às lojas. As pessoas precisam ter garantia de seus empregos, para assim voltarem a gastar suas economias. Mas devemos lembrar que a economia mundial já provou ser bastante flexível nos momentos de crise.

Você acredita que movimentos sociais como Occupy Wall Street influenciam a economia?

Perdoe-me, por ter que dizer isso, mas não. Eles fazem muito barulho e recebem muita atenção da mídia, mas os efeitos reais são zero. Esse movimento ganhou várias partes do mundo, quase todo país tem o seu "Occupy". Os manifestantes se reúnem, realizam ações contra os bancos, o parlamento e a bolsa de valores, são como esses movimentos contra o sistema do passado cuja influência final não significa nada. Entretanto, a opinião deles deve ser ouvida e respeitada. Essas pessoas estão mostrando que existe uma desigualdade social muito grande, especialmente na Europa e Estados Unidos, uma desigualdade que é fruto da injustiça, da crise e de políticos que representam mal as vontades do povo.

Nesta quinta-feira (1º), o IESE está promovendo no Brasil o Global Business Summit. O que você pode nos adiantar sobre a conferência?

É a reunião de mil estudantes e graduados da escola de negócios IESE com empresários de todas as partes do mundo para discutir sobre o que esperamos do futuro, quais serão os desafios, riscos e qual o caminho para sair da crise. Será uma conferência que discutirá toda situação econômica mundial. Nós mapearemos os caminhos para um mundo mais amplo.

www.administradores.com.br

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