O endividamento recuou em junho, mas a contratação de dívidas mais
longas, como o financiamento da casa própria, do carro e o crédito
consignado, devem adiar a retomada do consumo no segundo semestre.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgada ontem
mostra que, em junho, 63% das famílias brasileiras tinham dívidas. Houve
queda em relação ao mês anterior (64,3%), mas ainda se mantém acima do
patamar de junho do ano passado, de 57,3%. O levantamento revela que o
cartão de crédito lidera os financiamentos, com 76,2% dos empréstimos,
seguido pelos carnês, com 17,1%, financiamento de carro (11,4%), crédito
pessoal (10%) e cheque especial (6,1%).
Cresceram os empréstimos com prazos mais longos de pagamento, como o
crédito consignado – usado geralmente para trocar dívidas mais caras,
como do cheque especial e do cartão de crédito –, o financiamento de
carros e da casa própria.
“O lado positivo é que são financiamentos com taxas de juros menores.
Por outro lado, são dívidas mais longas, que devem comprometer a renda
das famílias por um período maior”, diz Marianne Hanson, economista da
CNC.
O consumidor também está esticando o prazo de pagamento de compras
comuns, já pressionado pela inflação e outras dívidas. De acordo com a
pesquisa da CNC, 31% das famílias têm dívidas com prazo de pagamento
superior a um ano.
Segundo o último dado disponível do Banco Central, o comprometimento
da renda anual das famílias com dívidas – incluindo a compra da casa
própria - atingiu patamar recorde em abril desse ano, com 44,46%.
Com a renda comprometida com dívidas mais longas, a chance de uma
rápida retomada do consumo nos próximos meses é menor, segundo a CNC.
Segundo Marianne, haverá melhora, mas ela estará muito mais sustentada
na redução da pressão da inflação no fim do ano do que de uma redução do
endividamento.
A projeção da CNC é de que as vendas do varejo cresçam 4,5% em 2013 –
contra 8,4% de alta registrada no ano passado. Para Lucas Dezordi,
coordenador do departamento de economia da Universidade Positivo (UP),
no entanto, o desemprego deve aumentar nos próximos meses, o que também
deve ser um fator inibidor de consumo e pressionar a inadimplência. Na
sua avaliação, o consumo das famílias deve ficar estagnado em 2013.
Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de
economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), até
agora a sensação de bem-estar foi segurada pelos baixos níveis de
desemprego, mas já é hora do governo estimular investimentos. “Não que
este ano vá repetir a tragédia que foi o ano passado, mas, famílias
endividadas, redução do crédito e consumo parando certamente não trarão
bons frutos no futuro.”
Pendências
Ciclo de alta dos juros complica crédito e renegociações
O novo ciclo de alta da taxa de juros básica da economia (Selic) que
em maio chegou a 8% – o maior patamar em um ano – também deve encarecer a
tomada de crédito e pode influenciar negativamente as renegociações de
dívidas nos próximos meses Quem for negociar pendências com bancos e
financeiras poderá encontrar condições menos favoráveis, com juros mais
altos. “Há o risco de a trajetória de queda da inadimplência seja mais
lenta”, diz Marianne Hanson, economista da CNC.
Segundo a entidade, o porcentual de famílias que disseram estar
inadimplentes alcançou 20,3% em maio de 2013, ante 23,2% em maio de
2012. No mês passado, 7,2% das famílias declararam que não terão
condições de pagar suas contas ou dívidas.
Para Lucas Dezordi, coordenador do curso de economia da Universidade
Positivo (UP), diante do atual cenário, o volume de concessão de crédito
deve ficar abaixo da média dos últimos anos. “O ritmo de crescimento,
de 20% ao ano, é inviável. Para esse ano, ele deve avançar no máximo
12%” , diz.
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