terça-feira, 2 de julho de 2013

E agora, Brasil?

Por André Chede - Toro News

Quem não conhece a célebre expressão “E agora, José”? Pois saiba que ela é o verso que se repete insistentemente no famoso poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1942. Caiu em domínio público e passou a ser usada sempre que alguém está diante de dificuldades, em um beco sem saída, em busca de uma solução.


É exatamente isso que se pergunta o investidor brasileiro, depois de um desanimador primeiro semestre de 2013. Muito embora o orgulho nacional tenha renascido, entre os protestos por um país melhor e a alegria de uma nova seleção de futebol, a verdade é que neste momento a nossa economia é cambaleante e deficitária, e o investidor está sentindo isso no bolso.

A Bolsa brasileira é disparada com o pior desempenho este ano, dentre as que têm alguma relevância mundial, com o Ibovespa aos 47 mil pontos caindo 22% nos primeiros 6 meses do ano. Esse é pior desempenho semestral, desde a crise em 2008, o que faz com que a nossa bolsa atinja o pior patamar dos últimos 4 anos.


Por incompetência da própria BM&FBovespa, e as dificuldades impostas pelas órgãos reguladores como a CVM, o número de investidores Pessoa Física que aplicam diretamente em ações, em pleno século XXI, ainda é irrelevante, com apenas o equivalente a 0,3% da população do país. Em países desenvolvidos esse índice passa de 50%, e em países emergentes como México, Rússia e China, esse número é ao menos 20 vezes maior, chegando à casa dos 7%.


Por conta disso, nosso mercado é extremamente dependente do investidor estrangeiro, sendo que estes representam atualmente mais 40% do volume negociado na nossa Bolsa. E como os “gringos” não têm gostado muito do que tem visto por aqui, nosso mercado sofre, e muito.


Saiba quais os fatores que têm prejudicado a nossa imagem internacionalmente.


BRASIL

O governo Dilma parece não ter aprendido com os erros dos últimos anos e insiste no modelo de crescimento, via consumo, que não é mais viável no Brasil. A economia, que cresceu ínfimos 0,9% em 2012, apesar de todo esforço feito mostra número fracos novamente, com um PIB (Produto Interno Bruto) registrando alta de 0,6% no primeiro trimestre de 2013, na comparação com o quarto trimestre do ano anterior, com uma indústria novamente decepcionante.

Por outro lado, a inflação continuou mostrando resiliência, o que fez o Copom (Comitê de Política Monetária) elevar a Selic em 0,5% na última reunião em 29 de maio. Com isso, a Selic passou para 8% ao ano, sendo que o relatório Focus projeta uma alta na taxa básica de juros para 9% até o final do ano.

A integridade do setor privado vem sendo constantemente ameaçada através de intervenções governamentais; como a MP 579 que alterou drasticamente as concessões no Setor Elétrico; as pressões dos bancos estatais pela diminuição do spread bancário; ou o congelamento dos preços do combustível que fazem com que a Petrobras tenha prejuízo vendendo gasolina. Tais atitudes, entre outras, fizeram com que agência internacional de risco, Standard & Poors, comunicasse que poderia tirar o Grau de Investimento detido pelo país desde 2008.

Outro fator que tem contribuído para o descrédito na economia e nas empresas brasileiras tem a ver com aquele que já foi considerado o homem mais rico do país. Eike Batista é o símbolo do Brasil que não deu certo, com problemas de gestão e financeiros em todas as empresas, o valor de mercado das empresas “X” já cai 92% desde sua máxima histórica, e especula-se que esteja pedindo ajuda ao governo para não quebrar.


CHINA

O cenário interno, já não muito promissor, foi bastante afetado pela China, que apresenta desaceleração no seu crescimento. Os dados econômicos chineses, que vêm se apresentando mais fracos no primeiro semestre deste ano, afetam de forma direta o Brasil, uma vez que o país é um grande exportador de commodities para o gigante asiático e se beneficiou com a forte demanda por produtos nacionais nos últimos anos. Após crescer cerca de dois dígitos durante anos, as expectativas mais otimistas apontam para alta de cerca de 7,5% do PIB para o gigante.


EUA

As notícias que mais impactaram os mercados em junho vieram da economia norte-americana, que mostrou sinais de atividade maior que o esperado. Por conta disso, existe a expectativa que o Federal Reserve (Banco Central Americano) antecipe a redução dos estímulos feitos ao longo dos últimos anos, e inicie um ciclo de alta dos juros básicos do país em futuro próximo.

A informação é positiva e trará novas perspectivas de crescimento para todos os países, porém, no curto prazo gera um ajuste grande nos mercados de capitais. Segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista da Quest, “Na rudimentar opinião dos mercados, uma normalização dos juros nos EUA vai fazer com que a maior parte do dinheiro que circula hoje em países como o Brasil volte correndo para Wall Street, deixando à míngua essas economias”.

Como o título público americano, que é considerado o mais seguro do mundo, irá começar a remunerar melhor, os investidores cobram um prêmio maior para investir em ativos de maior risco. Desta forma, as aplicações em ações, fundos imobiliários e títulos públicos brasileiros, sofreram muito. Por conta disso, os títulos públicos domésticos, indexados a inflação, com vencimento maior que 5 anos, estão com uma desvalorização de 11,7% em 2013.

O Banco Central bem que tentou segurar a alta do dólar, mas no acumulado do primeiro semestre, a divisa dos Estados Unidos subiu 9,1%, a maior arrancada para o período desde 2002, quando houve uma fuga maciça de recursos do país, diante da desconfiança do que seria um governo comandado pelo PT.

Mas, de acordo com Mendonça de Barros, a melhora dos EUA e o consequente movimento de alta nos juros ficará para o ano que vem, sendo esse movimento de correção exagerado: “Minha expectativa é que nas próximas semanas essa percepção de que o dia do ajuste final só ocorrerá em 2014 consolide esse movimento de recuperação dos mercados emergentes”.

Na conjuntura atual, os protestos que invadem as ruas de norte a sul, são muito bem-vindos, pois cobram uma mudança necessária no cenário político e abrem uma perspectiva de um desenvolvimento econômico mais promissor. Espera-se que o estigma de País do futuro, um dia vira coisa do passado, mas enquanto isso todos os “Josés”, que de acordo com Drummond aqui habitam, se perguntam: “E agora, Brasil?”.

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