Os investidores estão retirando dinheiro dos mercados emergentes no
ritmo mais rápido em dois anos devido à queda de ações, títulos e
divisas causada por um desaquecimento econômico e um menor estímulo
global.
Mais de US$ 19 bilhões saíram de fundos de investimento
em ativos de países em desenvolvimento nas três semanas finalizadas em
12 de junho, o maior valor desde 2011, segundo a EPFR Global. Os
investidores estrangeiros se livraram de US$ 5,6 bilhões de ações
brasileiras e de US$ 3,2 de títulos indianos neste mês.
A reversão do fluxo de US$ 3,9 trilhões que chegou aos mercados
emergentes nos últimos quatro anos foi agravada por protestos populares
no Brasil e na Turquia em desafio a várias políticas dos governos, do
combate à inflação ao desenvolvimento de infraestrutura.
Por sua vez, o Banco Mundial estima que a China, a maior economia em
desenvolvimento, terá a taxa de crescimento anual mais lenta desde 1999,
enquanto os déficits de contas correntes na Indonésia, no Brasil e no
Chile são os maiores em uma década.
Contribui para a reversão a especulação de que a Reserva Federal
Americana e o Banco Central Europeu porão fim ao fluxo de dinheiro
barato. O presidente da Fed, Ben S. Bernanke, disse ontem que os
responsáveis pela política econômica talvez “moderem” o ritmo das
compras de títulos neste ano, reduzindo a injeção de dinheiro na
economia americana, parte do qual chega a outros países.
Os títulos de governos de países emergentes em moeda local caíram 4,8
por cento desde 31 de dezembro, segundo dados compilados pelo JPMorgan.
As commodities, medidas pelo S&P GSCI Index, caíram 3,3 por cento no
mesmo período devido à menor demanda da China.
Após anos de “fluxos de entrada substanciais” os mercados emergentes
são “vulneráveis” a “deslocamentos globais de carteiras de valores”,
explicaram analistas do Deutsche Bank AG.
Na Turquia, protestos em Istambul provocados pela indignação a respeito
dos planos de desenvolvimento, desataram uma onda de manifestações
contra o governo em todo o país em 31 de maio, a maior perturbação em
uma década de poder do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, com pelo
menos quatro mortos e milhares de feridos em choques entre os
manifestantes e a polícia.
Tensão no Brasil
No Brasil, os protestos começaram por causa do aumento das passagens de
ônibus e cresceram até transformarem-se nas maiores manifestações no
país em duas décadas.
“É uma etapa perigosa”, disse Stephen Jen, cofundador do hedge fund SLJ
Macro Partners LLP. “O Fed começará a normalizar as taxas. É um
processo gradual, mas a pressão apontará em uma única direção: a favor
do dólar e contra os mercados emergentes”.
As importações potencializadas por empréstimos baratos levaram os
déficits de conta corrente no Chile, no Brasil e na Indonésia aos
valores mais altos em pelo menos uma década, deixando os países
vulneráveis à fuga de capitais, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O declínio dos ativos de mercados emergentes pode acelerar ainda mais
esse fluxo e criar um círculo vicioso, acredita Phillip Blackwood, que
gerencia US$ 3,7 bilhões em dívidas de países em desenvolvimento na EM
Quest Capital LLP de Londres.
“É o começo do fim do dinheiro fácil”, disse, apostando na
desvalorização da lira e do peso colombiano. “A situação positiva
anterior está se revertendo. É a tempestade perfeita para mais quedas”.
exame.com
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